Atendimento psicológico on line

O atendimento psicológico on line foi regulamentado no Brasil em 12/11/2018, através da Resolução CFP 011/2018. Atualmente é permitida e amplamente divulgada, não havendo limites de sessões para sua prática. O atendimento psicológico on line amplia o acesso de serviços de psicologia à população que vive em regiões com acesso limitado a serviços psicológicos e também para brasileiros que moram no exterior. Neste momento atual em que vivemos da pandemia do coronavírus, esse tipo de atendimento ganhou maior notoriedade por conta da necessidade do isolamento social. 

O atendimento psicológico on line é uma modalidade recente que tem crescido amplamente.

Com isso também foi possível perceber o crescimento das discussões sobre terapia online. Discute-se sobre os potenciais resultados, desafios, regulamentação e capacitação dos psicólogos para o atendimento online. Os debates sobre terapia online, polêmicos e por vezes rodeados de completa falta de profundidade, tem atraído o interesse de profissionais da área, da população e também na mídia.

A evolução da tecnologia

Há 10 anos atrás, smartphones e aplicativos para celulares nem sequer existiam. O boom das empresas “ponto com” ocorreu no final da década de 1990. O Google foi fundado em 1998, o facebook surgiu em 2004 e o primeiro iphone foi lançado em 2007.  Desde então temos visto muita coisa mudar, inclusive nas relações humanas, em nosso comportamento e também na forma como acessamos diversos tipos de serviços. Isso não é diferente com a saúde.

Uma pesquisa publicada em novembro de 2017 indica a existência de cerca de 325 mil aplicativos de saúde disponíveis na Apple Store e na Google Play, sendo que 78mil apps foram criados somente no último ano. Cerca de 6% desses apps estão focados em saúde mental, de acordo com o NCBI (National Center for Biotechnology Information).

Observando esses dados, é possível concluir a saúde também está passando por esta fase de transformação digital. E quando falamos em saúde mental, não é diferente. 

Cada vez mais pessoas procuram por um psicólogo na internet, e elas se deparam com a opção de serem atendidas através de meios digitais. O que é importante saber sobre terapia online ao agendar uma consulta com um psicólogo online?

Um dos princípios fundamentais do código de ética do profissional de psicologia afirma que: “O psicólogo contribuirá para promover a universalização do acesso da população às informações, ao conhecimento da ciência psicológica, aos serviços e aos padrões éticos da profissão.” Desconhecemos melhor instrumento que o uso da tecnologia para universalizar o acesso a serviços. 

Negar o atendimento psicológico online não é o mesmo que privar o indivíduo de terem saúde mental? A Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde como um completo estado de bem estar físico, mental e social.

Negar o atendimento online não é ir contra até mesmo o que diz a nossa constituição? Uma vez que esta pressupõe  que a saúde é condição indispensável à garantia da vida humana.  Não deveria o Estado também se preocupar ampliar o acesso à saúde mental nas redes públicas através do atendimento psicológico online?

Neste momento da pandemia deixo essas reflexões.

Maíra Amaral Andrade
Psicóloga – CRP 05/32352
Diretora e Responsável técnica do NIDH
Colaboradora na Comissão especial de Psicologia Organizacional e do Trabalho no CRP/RJ

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Gaslight – Saber o que significa pode mudar sua percepção sobre si mesma

Neste dia em que se exalta o amor – dia dos namorados – vamos falar um pouco sobre a naturalização da mulher como descontrolada emocionalmente. Essa naturalização de que a mulher é exagerada, emocional demais, faz com que muitas mulheres achem normal aceitar estas características como próprias delas, e esta aceitação tácita destas características é tudo que o machismo precisa para violentá-la sem que ela consiga entender o que está acontecendo, e ainda de brinde para o machista, culpar-se, por que afinal, as mulheres são assim mesmo, né? Exageradas.

– Você é tão sensível!

– Você é tão emocional!

– Você está sempre na defensiva!

– Você está exagerando!

– Acalme-se!

– Relaxe!

– Pare você está pirando!

– Você está louca!

– Eu estava apenas brincando, você não tem um senso de humor?

– Você é tão dramática.

– Você é tão estúpida!

– Ninguém vai querer você!

Soa familiar?

Se você é mulher, provavelmente seu companheiro já fez isso, ou faz. A probabilidade de a mulher ser a vitima deste tipo de violência, que chama se GASLIGHT, é infinitamente maior para mulher devido ao sexismo e machismo, que trata a mulher com desqualificação, inferiorização e descrédito. Basta notar que, é divulgado massivamente que os homens são racionais e as mulheres emocionais, mas não dizem que as mulheres têm uma inteligência emocional, trata se de uma desqualificação, o que quer dizer se com isso é que elas são descontroladas emocionalmente, ou seja, os homens são superiores, eles devem ter crédito e as mulheres não.

Os homens têm usado este tipo de manipulação emocional, embasada no machismo, para manterem se privilegiados nos relacionamentos, assim eles podem errar a vontade, trair acordos, fazer piadas depreciativas da companheira, humilhar, etc. que no final das contas, o discurso será sempre o mesmo: “Você esta exagerando, eu estava apenas brincando…” E a mulher pensa “Realmente, acho que estou exagerando” e fica ali sendo ferida, esmagada, tendo a autoestima destruída dia após dia, sem forças para reagir, por que entende se culpadas das situações. Às vezes, é tão convencida disso, que a agredida, é quem pede desculpas ao agressor, sentindo se aliviada por ele ter perdoado.
Um exemplo fácil de ser encontrado é quando o homem usa alguma característica física da mulher, e faz comentários depreciativos, como piadas a respeito do peso dela, para logo em seguida, quando a mesma reage, dizer a ela que ela esta exagerando e que ele estava apenas brincando.
O gaslight pode ser algo muito sutil, tão simples como alguém sorrindo e dizendo algo como: “Você é tão sensível”. Tal comentário pode parecer inócuo o suficiente, mas, naquele momento, o orador está fazendo um julgamento sobre como alguém deve se sentir. A desqualificação das percepções e sentimentos da outra pessoa é uma violência emocional.É muito mais fácil manipular emocionalmente uma pessoa que tem sido condicionada pela nossa sociedade a aceitá-la. Provavelmente algumas mulheres pensarão que por serem mulheres empoderadas, fortes, independentes… Não serão alvo deste tipo de violência, é importante dizer que todas estamos à mercê disso, por que é muito difícil diagnosticar o quadro, não esperamos que a pessoa que amamos, escolhemos para viver ao nosso lado e dividir a vida, nos trate desta forma, e por isso seguimos desculpando e aceitando a situação, quando não nos culpamos pela mesma.

O GASLIGHT rouba da mulher sua arma mais poderosa, ele rouba sua voz. Notem que muitas vezes ao fazermos cobranças aos nossos companheiros, namorados, maridos… Nós tentamos fazer de uma forma meiga, calma, quase como se nos desculpássemos por chamar atenção deles sobre algo que nos incomoda, e desta forma as mulheres vão tornando-se seres passivos, seres não assertivos, não combativos, presas fáceis para todos os tipos de violência machista. E é com este tipo de desqualificação da sanidade da mulher que o machismo também desconstrói a possibilidade de independência delas, afinal se são tão vulneráveis emocionalmente, como poderão alçar cargos elevados dentro de empresas, ou grandes responsabilidade, postos de liderança, não é mesmo? É muito valioso para manutenção dos privilégios dos homens tratarem as mulheres como desequilibradas, naturalizando estas características como inerente a elas.

O homem que faz isso, não faz de maneira não intencional, ele sabe que esta ferindo a companheira e a cada dia é mais complicado pedir aos homens para que observem suas atitudes, para que parem de praticar violências machistas, pois grande parte da população masculina esta comprometida em defender seus privilégios, mas esperamos que este tipo de leitura, além de esclarecer as mulheres para que possam se defender, também conscientize os homens.

Maíra A. Andrade Psicóloga - CRP 05/32352 Diretora e Responsável técnica do NIDH Colaboradora na Comissão especial de Psicologia Organizacional e do Trabalho no CRP/RJ
Maíra A. Andrade Psicóloga – CRP 05/32352 (Diretora e Responsável técnica do NIDH; Colaboradora na Comissão especial de Psicologia Organizacional e do Trabalho no CRP/RJ)

 

 

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Mesmo diante dos problemas, devo continuar a produzir?

Diariamente temos ouvido falar sobre a produtividade como algo ruim, com argumentos falando sobre não precisarmos nos preocupar com a produtividade, por não vivermos uma competição. De fato, não se deve pautar a vida na produção de outra pessoa, no entanto, a produção diária de cada um é muito importante para a autoestima, e principalmente para a autorrealização.

Seria “adoecedor” para nossa saúde emocional e mental se a todo momento comparássemos nosso hoje com o de alguém que depois de tantos percalços alcançou a autorrealização pessoal. Mas tendo como base o estudo de Maslow, quando fala sobre a pirâmide de necessidades humanas, vemos que para alcançar o topo, é necessário que cada etapa tenha sido solidificada.

Maslow define cinco categorias de necessidades humanas, sendo elas fisiológicas, de segurança, sociais, de estima e então a autorrealização. Sem produtividade não alcançamos o topo desta pirâmide. Não devemos parar nosso trabalho, nosso estudo ou nossas conquistas, pelo fato de outra pessoa não estar produzindo, ou estar produzindo mais do que você.

Crises financeiras, crises na saúde, crises sociais, acontecerão a todo momento, mas não podemos parar por causa delas, devemos nos adaptar, repensar as situações e continuar produzindo. Afinal, a produção é sua! Então, produza, escreva, grave, crie… e lá na frente colha a autorrealização que sua própria produção diária fez com que você alcançasse.

Helinton Peixoto Mercante – Psicólogo – CRP 05/48251, Orientador profissional, Psicomotricista e Neuropsicopedagogo, Especialista em Psicologia escolar e inclusão. Psicólogo do CAPS AD de Belford Roxo e Diretor Pedagógico da Koala eventos.

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GRUPOS QUE JÁ SE ENCONTRAVAM EM VULNERABILIDADE ANTES DA PANDEMIA

Crianças e adolescentes com deficiência; meninas (por sua condição de gênero); meninas e meninos; indígenas; quilombolas; ribeirinhas e ribeirinhos; negras e negros; LGBT+; migrantes e imigrantes; refugiadas e refugiados; moradoras e moradores de comunidades rurais/periferias; adolescentes cumprindo medidas socioeducativas, adolescentes em situação de acolhimento institucional, pessoas  que enfrentam tratamento de doenças severas, etc.

                Duas atitudes são fundamentais nesse momento: ter um olhar atento para identificar e denunciar situações de violência e tomar todas as medidas necessárias para prevenir essas situações.

                A realidade do Brasil, nos faz pensar em populações, grupos e comunidades que já se encontravam em situação de risco antes desse momento de crise mundial. Os últimos acontecimentos tem nos mostrado a importância de estarmos atentos para poder agir. O momento é desanimador e de indignação. No dia 17 de maio de 2020 o dançarino, ator e modelo, Demétrio Campos foi SUICIDADO – termo utilizado pelos ativistas por definir o suicídio como um processo de ‘’ação direta do Estado ou pela sua inoperância na Assistência Social, no Saneamento Básico, menosprezo alimentados por religiões, escolas, meios de comunicação e autoridades, e reproduzidos por famílias, comunidades, ambientes de trabalho’’. No dia seguinte, o adolescente de 14 anos, João Pedro foi vítima de uma operação policial. João, foi levado sem o acompanhamento de sua família e depois de muitas manifestações nas redes sociais em apoio à família e em revolta com o acontecido, veio a notícia de que seu corpo já se encontrava no IML. João, Demétrio, Agatha, Marcos Vinícius e tantos outros nomes e histórias que são interrompidas pela necropolítica do estado do Rio de Janeiro e pelo genocídio de populações entendidas socialmente como minoritárias.

                Cabe aqui, pensarmos em quem são as pessoas que precisam ainda mais da proteção e cabe também aos que possuem mais recursos, privilégios e condições se movimentarem pra gerar mudança, uma mudança estrutural. Use das suas estratégias para ajudar esses grupos. Há muito tempo, vidas são tiradas por uma supremacia e a criminalização da pobreza não pode permanecer sendo algo naturalizado, comum e cotidiano. Se um tiro disparar na sua casa agora, quem você é no jogo?

Fonte: Guia de Bolso: Proteção infantil e ajuda humanitária na pandemia de COVID-19; @flaviaol e @instadajaqueline

Autora: Grazielly Ribas de Oliveira – Psicóloga (CRP 05/59433), mestrando em Psicologia pela UFRRJ, pesquisadora do Laboratório de Estudos Sobre Violência Contra Crianças e Adolescentes (LEVICA), formada em Terapia Sexual, atua na clínica com crianças, adolescentes e adultos na abordagem da Terapia do Esquema. Participante do Projeto CEIBA – teatro e biologia.

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